martes, 12 de agosto de 2014

UM RASTO NO CAMINHO




Há versos que rompem como cactos
em escarpas desoladas de terras
desconhecidas. Versos que me picam
por dentro e sem cessar se repetem
versos que se escrevem e não se escrevem
como as primeiras frases que ao despertar martelam
com suas sílabas de gelo e sol.

Há versos que me trazem uma torre para a luz
um sorriso para o teu dia
un cigarro para o serão
um copo de vinho
e também a rosa negra que por vezes floresce
no caminho.

Há versos que me trazem a estrela errante
e o nome suprimido
num velho pergaminho
ou o esplendor de um instante
sempre que estou perdido
no caminho.

Hà versos que me trazem a página onde está
o nome que não mais se escrevería
ou Hepátia a murmurar no pelourinho
o verso que não há
e para sempre deixa un rastro de poesía
no caminho.

Versos como quartzo mica xisto
em escarpas onde as águias fazem ninho
e que me trazem obscuros mitos
de que não há memória nem registo
apenas isto; versos nunca escritos

no caminho.


NADA ESTÁ ESCRITO. MANUEL ALEGRE. Ed. Dom Quixote, 2012.

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